Influência do COVID-19 na resistência bacteriana

Em janeiro deste ano pesquisadores holandeses (Eric Pelfrene et al.) publicaram um estudo sobre resistência  a múltiplas drogas na era do Covid-19.

O estudo abordou o elevado número de pacientes com doenças por coronavírus em 2019 (COVID-19) internados em enfermarias de hospitais e unidades de terapia intensiva (UTI) em todo o mundo, sendo de fato os mais vulneráveis ​​a infecções secundárias. O agravamento dos parâmetros inflamatórios pode se tornar difícil para o médico discernir a reação inflamatória grave de COVID-19 da infecção bacteriana secundária, estabelecendo um baixo padrão no início da cobertura empírica de antibióticos de amplo espectro.

Autores como Rewson et al. juntaram alguns relatórios principalmente chineses abrangendo o período de janeiro a meados de abril de 2020, onde revela que 72% (1450 de 2010) dos pacientes receberam antimicrobianos de amplo espectro. O aumento de trabalho pelos profissionais da saúde e a tensão psicológica, fez com que a política de administração de antimicrobianos se tornasse mais difícil.

Baseado numa revisão sistemática envolvendo 2.834 pacientes, Lansbury et al. relatam coinfecção em 7% dos hospitalizados e 14% dos pacientes internados em ambiente misto de enfermaria/UTI.

Até o momento, resultados de coinfecção bacteriana adquirida na comunidade se comparam aos números obtidos durante a ocorrência de influenza pandêmica e sazonal, para os quais patógenos colonizadores nasofaríngeos, como S. pneumoniae, S. pyogenes e S. aureus, geralmente são causadores de infecções secundárias e representam a causa de internação hospitalar. Em contraposição, para o COVID-19, a pneumonia adquirida em hospital e ventilação (HAP / VAP) parece proeminente, com os isolados provavelmente refletindo a ecologia institucional local e o padrão de resistência antimicrobiana.

Um monitoramento de gestão antimicrobiana apropriado e protocolos para prevenção e detecção precoce e tratamento das complicações infecciosas precisam ser cumpridos e, principalmente, programas de administração de antimicrobianos necessitam ser integrados em esforços futuros de preparação de resposta a emergências. O intenso uso de antibióticos (tratamento empírico) em pacientes com COVID-19 no estágio inicial da pandemia pode influenciar o nível de resistência bacteriana, impactando a carga da doença no futuro.

A condição de saneamento precário, pouco acesso à saúde de qualidade e uso irracional de antimicrobianos contribuem para a colonização intestinal e disseminação de microrganismos resistentes. O acesso à água potável, saneamento e cuidados a saúde de alta qualidade são pontos cruciais para melhoria do cenário atual, incentivos políticos e a regulamentação adequada desempenham um importante papel no combate à resistência, assim como desenvolvimento de novos antibióticos, diagnósticos rápidos e terapias alternativas precisam ser incentivados.

Administração antimicrobiana e medidas educacionais

Revisando as recomendações da O’Neil em 2016 para combater a crise de resistência antimicrobiana, além da necessidade do uso prudente de antibióticos, evitando sua prescrição inadequada pelos médicos, a ênfase na  prática de higiene com a lavagem das mãos  mais frequentes parece ser eficaz.

Os antibióticos devem administrados de forma responsável e com moderação, com tratamento empírico apenas em casos com alta probabilidade de infecção bacteriana. Com uma política de saúde, a redução do uso de antibióticos em animais produtores de alimentos também visa preservar os benefícios atuais e futuros dos antibióticos para humanos.

Além de todas as ações que necessitam ser colocadas em prática, citadas anteriormente, a rede de agências europeias de medicamentos traçou estratégias para até 2025, onde pretende desenvolver ainda mais as iniciativas existentes e reforçar as medidas de combate à RAM (resistência antimicrobiana).  A rede identificou seis objetivos principais relacionados com a resistência antimicrobiana e outras ameaças emergentes à saúde, a serem alcançados dentro do período de referência:

  • Fornecer informações de alta qualidade sobre o consumo de antimicrobianos e dados de vigilância sobre resistência antimicrobiana em animais e humanos em apoio ao desenvolvimento de políticas;
  • Contribuir para o uso responsável de agentes antibacterianos e gestão antimicrobiana regulatória eficaz nos setores humano e veterinário, implementando estratégias para melhorar seu uso por pacientes, profissionais de saúde e autoridades nacionais;
  • Garantir que ferramentas regulatórias estejam disponíveis para proporcionar opções terapêuticas (com foco em medicamentos veterinários), minimizando o impacto da resistência antimicrobiana na saúde pública e no meio ambiente;
  • Definir incentivos de atração para novos e antigos agentes antibacterianos, incluindo investigação de suporte para novos modelos de negócios e desenvolvimento sem fins lucrativos;
  • Promover o diálogo com os desenvolvedores de novos agentes antibacterianos e estabelecer alternativas aos antimicrobianos tradicionais, agilizando seu desenvolvimento e fornecendo orientação adequada em medicina humana e veterinária;
  • Melhorar a preparação regulatória para ameaças emergentes à saúde.