A enzima KPC (Klebsiella pneumoniae carbapenemase) é frequentemente associada à bactéria Klebsiella pneumoniae, uma associação reforçada pela primeira descrição da enzima, que ocorreu justamente em um isolado dessa espécie bacteriana . No entanto, a KPC é uma enzima do tipo carbapenemase e pode ocorrer em uma variedade de bactérias Gram-negativas, incluindo, por exemplo, outras bactérias da ordem Enterobacterales, Pseudomonas aeruginosa e Acinetobacter baumannii. O erro comum de se associar KPC exclusivamente a K. pneumoniae se dá pela origem de seu nome, mas sua ocorrência é amplamente disseminada entre diversos patógenos Gram-negativos.
A primeira publicação descrevendo a enzima KPC foi relatada no ano 2001, e a sequência gênica foi publicada e registrada sob a denominação blaKPC-1 (DOI: 10.1128/AAC.45.4.1151-1161.2001). Anos após o sequenciamento inicial, uma nova variante emergiu, sendo identificada como blaKPC-2 (DOI: 10.1093/jac/dkg124). No entanto, uma reanálise das sequências gênicas revelou um erro no sequenciamento inicial, e foi demonstrado que blaKPC-1 possui a mesma sequência de blaKPC-2 (DOI: 10.1128/AAC.01445-07).
A característica distintiva da enzima KPC é sua capacidade de hidrolisar carbapenêmicos e outros antibióticos β-lactâmicos, levando a um amplo espectro de resistência e limitando as opções terapêuticas, também pode ser acompanhada de resistência a outras classes de antibióticos, por exemplo, resistência às quinolonas.
Um tratamento viável para infecções causadas por KPC é o uso de ceftazidima-avibactam, Avibactam é um inibidor de β-lactamase, não β-lactamico, combinado com ceftazidima (comercialmente conhecido como Torgena). Combinações de classes de antibióticos, incluindo carbapenemicos, dependendo das concentrações inibitórias mínimas também podem ser utilizadas para o combate de bactérias que expressam enzimas do tipo KPC. No entanto, enzimas variantes, como KPC-3, podem apresentar resistência a ceftazidima-avibactam (CAZ-AVI), o que representa um desafio clínico crescente, apesar disso, podem apresentar sensibilidade aos carbapenemicos quando interpretados utilizando a noma vigente no Brasil, BrCAST (BrCAST – Brazilian Committee on Antimicrobial Susceptibility Testing –). Na data da elaboração deste texto, existem depositadas 216 variantes de KPC no banco de dados oficial. (Beta-Lactamase DataBase (BLDB): Structure and Function).
A evolução das variantes KPC, especialmente em contextos hospitalares e com o uso frequente de antibióticos de amplo espectro, sublinha a importância da vigilância epidemiológica e da reavaliação constante das práticas de controle e tratamento de infecções por patógenos multirresistentes. O uso de antibióticos combinados, o desenvolvimento de novos inibidores de β-lactamase e a implementação de protocolos rigorosos de isolamento são estratégias essenciais para o manejo dessas infecções complexas e evoluem dia a dia, então fique sempre atualizado.
Para o laboratório é importante categorizar as β-lactamases em serino ou metalo carbapenemases para poder fonecer dados suficientes para o clínico realizar os ajustes terapêuticos. Lembre-se que KPC é a enzima e não a bactéria. Fique atento em nossas redes sociais e canais de comunicação para mais curiosidades microbiológicas.
Veja mais no módulo 10 dos manuais da ANVISA e no site do BrCAST: Manuais de microbiologia clínica — Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa
Texto Por Darlan Rocha